quarta-feira, 13 de abril de 2011

Algumas pessoas olham atravessado, é como se eu andasse chutando a minha cabeça. Ei, minha cabeça está acima do pescoço e pretendo deixá-la neste lugar por um bom tempo!
Eu poderia muito bem sentar e fazer o tempo passar mais ou menos na maior velocidade possível que eu consigo dominar. Posso pular a minha vida pra parte em que eu me canso de dizer a pessoa que amo que essa história de querer filhos é bobagem, que os pisos da sala ficam bonitos quando combinados com a cortina verde, e que foi uma ótima idéia mudarmos para uma cidade do litoral. Então agora posso me preparar para ter meu filho e envelhecer. Posso viver com minha aposentadoria, fazer algumas viagens e pensar que quem está do meu lado, bem... é alguém que eu amo, mas que eu não gosto muito já faz algum tempo. As horas tem uma duração maior, porque brigamos por coisas fúteis. Acho que é o hábito. Depois de nos juntarmos em uma pessoa só, deixamos de brigar por nós...
Ohhh! Tudo foi tão rápido. Dominique com o olhar profundo me chamou, segurou em minhas mãos por um momento e em uma fala pausada e adulta, embora eu pudesse ver claramente sua adolescência escorrendo para fora de seus poros, sussurrou:
- Ei mãe, estou saindo de casa. Já é hora. Tenho um bom emprego, namoro e não quero criar mais problemas pra vocês.
Então saiu pela porta da frente, então saiu de dentro de mim, saiu da minha cabeça, saiu e me deixou aqui, com meus poucos anos, antes que tudo pudesse acontecer, ele me deixou antes de existir.

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