terça-feira, 17 de agosto de 2010

Memórias

Atenção, esse post fala sobre lembranças pessoais e teorias baseadas nessas experiências. Se você tá com preguiça de ler, vai pro Twitter de alguém ou coisa assim. Grata.


Eu me lembro bem...entravamos nós cinco no carro. Primeiro meu pai levava minha mãe no trabalho, aonde era coincidentemente a escola da minha irmã, depois levava meu irmão na faculdade e por fim, me deixava na escola. Como eram muitas pessoas (preguiçosas), o atraso era frequente, então as vezes, quando já não daria tempo de eu entrar pro primeiro horário, meu pai me deixava ir para a faculdade com meu irmão. Eu ficava eufórica! Na minha infância, meu irmão era meu ídolo, e poder passar mais tempo com ele em algum lugar aonde (hipoteticamente) ele aprendia alguma coisa para mim era sensacional! Eu ficava lá, na sala dele, e enquanto ele tinha aulas, eu ficava desenhando e interagindo um pouco com os amigos dele. Tinha um, cujo apelido era Desenho que fez uma caricatura minha...me recordo de ter ganhado dele uma caneta de desenho, a qual cuidava desde então com carinho e admiração. No intervalo (ou quando meu irmão matava aula) iamos pro D.A. - Diretório Acadêmico...não tenho certeza se era mesmo esse o nome, mas é como me vem a cabeça no momento.Lá tinham puffs pra você deitar, som pra você colocar o cd que quisesse, uma mesa de totó/pebolim, sofá...Engraçado, eu achava aquilo tão diferente e gostava de ir lá, apenas por ir, ou mesmo apenas por estar com meu irmão.
Em um aniversário meu, ele e sua banda de palhaços veio tocar na minha escola...Eu nunca esperaria por aquilo, foi uma grande surpresa. Outra vez saimos e fomos para um parque, ficamos até o anoitecer e quando chegamos em casa, a mãe deu bronca, o chamou de irresponsável e essas coisas. Lembro que lá eu brinquei de pular nos tocos, cada vez num toco mais alto.
Acho que a vida é mais ou menos isso . Uma escada de tocos.
Teve um dia que acordamos e fomos tomar banho de mangueira (acho que isso é mania de mineiro hein. Aqui onde eu moro, ninguém dá essa sugestão)...depois disso lotamos os cabelos de condicionador e ficamos no sol pra hidratar. Eu não sabia que era pra pentear antes de ir torrar ao sol . Imagine só pra desembaraçar depois!
Teve um dia em que a corda do violão dele arrebentou, e ele colocou a culpa em mim. Engraçado como eu era besta , eu fui lá e de um jeito ninja e desconhecido consegui colocar a corda no lugar. Pena que isso não ajudou a provar minha inocência.
Uma vez pedi de aniversário um digimon (naquela época, faziam uns digimons que eram tipo transformers, era incrivel), só que eu já tinha a coleção toda. Quando fui receber o presente, era um patinete (que é o que eu realmente queria). A rodinha da frente sempre saía do eixo (acho que isso era padrão né?! haha)...quando meu irmão falava no telefone, ele pegava o patinete e ficava andando pela casa com ele, segurando o telefone em uma mão e o patinete em outra.
Estranho o fato de eu não interagir muito com minha irmã nessa época...De brincadeiras, lembro um dia que bricamos durante um bom tempo de Mês; Eu, ela e meu irmão.
Nós uma vez quebramos a vasilha de fazer brigadeiro, brigando pra ver quem ficava com as raspas...
E no colégio...ai ai... por algum motivo oculto e desconhecido, eu não tinha lápis de cor, então minha irmã fazia meus deveres/tarefa/para-casa que precisava colorir com aquelas canetas Bic coloridas. Até então nunca tive problema, mas um dia ela escreveu no desenho: "desculpe, não tenho canela laranja"...Depois disso tive que comprar lápis de cor e eu mesma colorir os desenhos que me eram mandados como tarefa. Lembro de ter levado bronca da minha irmã em um dia que ela disse para eu ir no bar da esquina comprar salgadinho/chips e ter cuidado com o troco, porque aquele era o único dinheiro que ela tinha. Não é que perdi o dinheiro na volta? Chorei tanto.
Minha irmã tocava Blackbird dos Beatles no violão, meu irmão tocava O Vira dos Secos e Molhados e O Leãozinho do Caetano.
A maior parte do tempo eu passava com meu pai. Ia na padaria com ele, ia buscar minha mãe, ficava no quarto com ele vendo TV até cair no sono. Aí então ele me levava pra minha cama, no meu quarto, no segundo andar. Eu quase não via minha mãe, quase não falava com ela. Ela sempre trabalhou muito. Via ela a noite, quando ela chegava já cansada, as vezes no almoço, as vezes durante as festas que meus irmãos davam...meu sonho era brincar com ela. O máximo que eu conseguia era que ela cortasse as mandalas que fazia com giz pastel em formatos triangulares e me desse pra montar, como um quebra-cabeça. Ao terminar com êxito essa montagem, já não tinha mais a atenção dela, e ia procurar alguém ou algo pra fazer.
Até os 12 anos, sempre acordei cedo. Era solitário nas férias, já que só eu estava acordada. O que fazer? Esperava ansiosa meus irmãos acordarem, ou então meu pai, para podermos brincar ou fazer algo. Eu jogava pedrinhas/britas na janela (de vidro) da minha irmã, pelo quintal, pra ela acordar. E ela ia sempre mecanicamente para a pia do banheiro assoar o nariz. Então eu subia pro segundo andar e lá estava ela com cara de sono e com a camisola do Garfield. As vezes interagíamos todos nós (meu irmão, minha irmã e meu pai), jogando baralho na sala, ou truco ou escopa. Eram momentos legais.
Minha mãe viajava para outros países e me trazia presentes...Presentes? Eles ficavam ali, mas e minha mãe?! Voltaria pra bolha dela novamente.
Tenho vagas lembranças do meu . Lembro que toda manhã ele saia pra caminhar, sempre de terno e me perguntava se eu queria um pirulito lilás/roxo/bonina, um salgadinho/chips ou um Kinder Ovo. Na maioria das vezes eu escolhia o pirulito. Será que algum dia vou chegar a sentir aquele gosto de novo? Ou será um gosto de "nunca mais", como foi o caso do Cheetos de "tubinho"?
As vezes parece que não concluí essa etapa da minha vida, e toda vez que encontro meus irmãos, esse abismo se mostra tão claro a ponto de queimar os olhos. Parece ser irreparável. Eles moram longe, falta naturalidade, falta intimidade e liberdade pra se dar ao luxo de ficar apenas em companhia sem falar nada. Gosto das festas na casa do meu irmão, não por ser festa, mas porque parece que cria temporariamente uma ponte cruzando aquele abismo, mesmo que eu não diga nada, faz meu coração bater mais forte. É um momento utópico, aonde todos os castelos caem.
Sobre os castelos, cada um faz seu castelo, seja ele nos vícios, nas piadas, na preguiça, na música, no desenho....E lá, mora sozinho e solitário, lá dentro é tudo escuro e sombrio...Vivemos vendendo toda essa imagem, mas alguma hora temos que convidar alguém pra entrar no castelo e ajudar a achar a saída. Acho que viver é isso, não é mesmo?

Eu havia chegado ao ponto de fazer um castelo pra mim, simplesmente de nada, e dentro, eu colocava bonecos e todos eram lindos e felizes, e brincavam comigo, dançavam ciranda. Sabe, foi preciso um choque pra eu entender que não é possível ter uma projeção do que você quer dentro de você, porque isso só vai te afundar mais e mais até você precisar de cuidados.
Cheguei a pensar que estava esquizofrênica. Mas acho que só de analisar e constatar isso, eu posso me considerar uma pessoa sã.
A loucura não era só pelo meu castelo, por meus bonecos ou algo assim...ela se fazia também pelos barulhos que eu, e só eu escutava nos meus ouvidos. E não era nada de sobrenatural, apenas um edema na mandíbula. De tanta pressão que fazia na mandíbula quando ficava nervosa, acabei causando isso.
Bem, tenho mais pra falar, mas não tenho mais forças.

Beigos e se cuidem, porque isso é bem importante.

2 comentários:

Laísa Andrade disse...

Belíssimo texto.
Clara conclusão e muito admirável a relação -descrita ao longo do texto- com seus irmãos.

Uma pontinha de inveja (boa) e saudade da infância.

Te sigo desde então, se me permite.

Buenas noches.

Flávia disse...

Quem pensaria que isso bom que a gente tem começou com esse comentário?! ♥